Duas moças correm desesperadas
nas ruas escuras de Londres. Era noite e uma delas tinha sido baleada e
sangrava muito. Ofegante a outra moça segurava a amiga entre alguns becos até
chegar ao maldito destino, uma grande parede de tijolos sem nada além de uma
lanterna iluminando a forma abobadada em relevo.
A garota então deixa à amiga
sangrando encostada em uma lata de lixo e puxa um medalhão que logo conjura uma
forte magia para transformar a parede em uma passagem limpa com vegetação, indo
em direção de uma magnífica porta feita de carvalho.
As duas moças rapidamente passam
pela passagem conjurada e vão ofegantes até a porta. Duas batidas foram
suficientes para chamar o morador do recinto, uma bela mulher com cabelos
longos e negros, pele clara coberto por diversas tatuagens roxas, alta e com
roupas longas de uma maga experiente.
- O que diabos acha que está
fazendo? – disse a maga ao acolher as garotas – Garota, eu disse para nunca
trazer ninguém aqui?
- Ela foi baleada!
- Isso eu sei. Porque não levou
para um pronto socorro.
- Por causa disso – a garota
então mostrou um anel com uma grande esmeralda incrustada. A maga ficou
perplexa e sentou-se na poltrona mais próxima.
– Como ela conseguiu?
- Não sei, mas quando vi o anel
tentei ajudar. Dois caras armados a encurralaram e queriam o anel. Acho que
eles não sabiam do que se tratavam.
- Acho que ela também não –
disse a maga proclamando algum feitiço para amenizar a dor, enquanto pegava
alguns ingredientes para uma poção que jogou goela abaixo da moça – Quem andaria
com um dos anéis da Tabula Redonda sem saber com que está se metendo.
- Por favor, nem sempre o mundo
conspira contra você
- Eu sei, mas nunca é
coincidência essas coisas baterem na minha porta – Lunar parou por um instante
colocando a mão na cansada testa – Preciso falar com alguém sobre isso. Cuide
dela e quando estiverem prontas caiam fora daqui. O Rock ficará de olho em
vocês. Não se esqueça da poção do esquecimento.
Lunar apontou para uma pequena
estatua de barro e pedra com olhos azuis flamejantes e expressão carrancuda,
encostada na parede observando a mulher ferida gemer lenta, mas constantemente.
Aquele era Rock.
- Pode deixar tia.
- Nunca mais me chame assim –
Lunar se direcionou a porta antes de voltar a falar – Dar um anel mágico a uma
estranha sonsa e humana, isso não pode estar certo.
...
O restaurante tinha pouco
movimento aquela hora do dia e os garçons conversavam entre si. O local era de
alta classe para quem tinha dinheiro, muito dinheiro, ou magos que queriam
passar despercebido. Nesse caso o mago era o velho com cabelos ralos e
grisalhos, com uma barriga começando a se avantajar.
Lunar entrou com um vestido roxo
e cobrindo todas as tatuagens com uma magia providencial. Ela não precisava
chamar a atenção, sabendo que já era uma incógnita no mundo humano por sua
magia. Logo ela se direcionou ao velho senhor e sentou na cadeira, impedindo
que o garçom ajudasse com a cadeira.
- Quanto tempo Mago Haskel, vejo
que não mudou nada.
- Gentileza sua. Estou cada vez
mais gordo e meu metabolismo está pior para absorver essa magia rudimentar, a
“alimentação” – Lunar deu um pequeno sorriso - Sente-se. O que trouxe para mim?
Lunar não exitou. Sentou
tranquilamente, pegou uma taça de vinho e bebericou ao botar na mesa o anel com
a esmeralda incrustada. O velho mago parou de comer drasticamente sem perder a
compostura e pegou o anel na mão;
- Mas ele é falso!
- É uma replica magica para
analise, nunca iria trazer o verdadeiro comigo.
- E como conseguiu? Por que você
está atrás desses amaldiçoados anéis?
- Não estou, bateram novamente
com o anel na minha porta - disse Lunar descendo a taça de vinho. O velho
sorriu.
- Alguém está brincando com você
- disse o velho.
- Acho que não. Nem tudo é uma
conspiração - Lunar sorriu lembrando da sobrinha - Mas se dois anéis surgiram
em menos de uma década, algo está prestes a acontecer.
- Então me diga o que a senhorita
quer com tudo isso - indagou o velho.
- Preciso de livros... livros da
academia.
- Ha - riu vagarosamente Haskel
- A imprudente aluna expulsa da academia precisa estudar.
- Por favor Haskel, eu não
conheço essa história tão bem quanto seus alunos, mas se esses anéis bateram na
minha porta eu preciso estar preparada - Lunar suspirou sabendo que o que iria
dizer era a frase certa para Haskel ajudar - Preciso estudar essa magia,
preciso estudar essa história.
...
Rachel, a sobrinha de Lunar, se
aproximou de Rock, a estatua, e gentilmente começou a fazer cafune na cabeça
dele.
- Então Rock, conte mais sobre
esses anéis. Eu não sou nenhuma bruxa e não sou tão inteligente quanto minha
tia.
- Lunar não conhece essa
história, logo eu também não - disse a voz grave de Rock.
- Mas tem haver com a tabula
redonda.
- Não diretamente, mas sim com a
história de Merlim - Rock corrigiu - Desconhece sua origem e qualquer
informação preciso da autorização da minha mestre, afinal sou uma estatua, e
estatuas não não podem ser torturadas - Rock abriu um sorriso torto de pedra.
Naquele momento a garota ferida
acordava, Rachel correu para pegar a poção de esquecimento. A garota estava
tonta e encostou a cabeça na poltrona e tocava a pequena cicatriz no local de
onde fora baleada.
- Não se preocupe, você está bem
- disse Rachel com o frasco em mãos.
- O que aconteceu? - perguntou a
garota.
- Você... você foi esfaqueada -
pensou rápido para justificar a cicatriz - Tome isso, irá ajudar com a dor.
- Mas ouvi barulho de tiros, não
lembro de facas - disse a garota pegando o frasco - Isso não importa, estou
onde deveria estar.
- Não entendi o... - Rachel foi
surpreendida pela garota que lançou uma faca e fez ela de refém, colocando a
lamina próximo da garganta dela. Rock saltou de onde estava e cercou a garota
que tinha mudado o tom da cor dos olhos por um vermelho sangue forte.
- Onde estão os anéis?
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